TEDx, um evento inspirador e inovador.

•Junho 12, 2013 • Deixe um Comentário

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O meu primeiro contacto com o TED deu-se nas aulas de inglês Advanced level, onde minha professora nos colocava a assistir as palestras no youtube. Seu objetivo principal era de praticarmos o listening. Porem, devido às reflexões profundas, e aos assuntos bastante pertinentes das palestras, estas proporcionavam ricos temas para discussão e diálogo na sala de aula. Fiquei então profundamente interessado em assistir um destes eventos, que acontecem um pouco pelo mundo inteiro, e foi com muito êxtase que, por acaso, apercebi-me que haveria um evento TEDx aqui em Luanda. Acessei a pagina no facebook, e o site www.tedxluanda.com, e cumpri todos os requisitos para assistir o evento. O custo da entrada são 9.500 kz, mas ao fim do dia, ninguém se lembra de ter pagado este valor, porque vale mesmo a pena.

Mas o que significa a sigla TED, e como nasceu este evento profundamente enriquecedor?

A sigla TED significa Technology Education Design. Este nome deve-se a origem dos temas discutidos nas primeiras palestras. È uma plataforma global, dedicada as ideias que merecem ser partilhadas, conforme o slogan em ingles: Ideas worth spreading.

Nasceu em 1984, é uma organização sem fins lucrativos, dedicada a difusão de ideias inspiradoras, atravez do formato conferência.

A conferência anual do TED, que tem lugar em Long Beach, na California, apresenta, durante quatro dias, pensadores e empreendedores de todo o mundo. As palestras duram cerca de 18 minutos e são disponibilizadas gratuitamente no site WWW.TED.COM. Nomes como Bill Gates, Al ore e Isabel Allende já passaram pelo palco da conferencia.

Para alem da conferência anual, realiza-se o TEDGLOBAL em Oxford, Reino Unido, onde os temas são de natureza um pouco mais internacional, mas com o mesmo formato.

Hoje em dia, o TED é referencia para uma vastíssima comunidade global de indivíduos e empresas que acreditam no poder das ideias inspiradoras e inovadoras.

TEDx são eventos locais, organizados e curados de forma independente, cujo foco está na criação de uma plataforma aberta e acessível, sem qualquer agenda comercial, política ou religiosa, permitindo assim o alastramento das ideias dignas de serem partilhadas, a nivel local ou global. (TEDx, onde x significa “evento organizado de forma independente”, segundo os regulamentos e normas TED.)
Felizmente, ouve alguém que teve o sonho de trazer este evento para o nosso pais. Seu nome é Januario Jano, designer e consultor de marcas, e que já vem trabalhando no desenvolvimento de projetos a nivel mundial. Ele é assim a figura responsável, o Curador e apresentador deste inspirador evento, a qual merece nossos rasgados elogios pelo excelente trabalho realizado.

O primeiro evento TEDx em Luanda, ocorreu no ano passado (2012), e não defraudou as espectativas. O elenco de oradores foi muito interessante, Incluíndo até mesmo um jovem adolescente de 16 aninhos, de nome DÉBORAH CARDOSO RIBAS, bisneta de Oscar Ribas, o bem conhecido escritor angolano. De forma sorridente e simpatica, falou-nos dos livros de sua infância, os seus preferidos, e que lhe impulsionaram a carreira das letras, bem como apresentou a sua primeira obra intitulada Histórias do coração.

A edição de 2013, aconteceu muito recentemente (25/05), e foi tão, ou mais empolgante do que a edição anterior. Desta vez, tivemos oportunidade de assistir oradores estrangeiros, inclusive um deles a expressar-se em língua inglesa (Oportunidade de praticar o listening outra vez.). O Orador foi IKENNA AZUIKE, o criador da rubrica WHATS UP AFRICA, onde o orador, por meio de vídeos, aborda temas relacionados com o continente africano, de forma satírica, divertida e muito empolgante. A sua palestra foi sem dúvida, um dos momentos mais divertidos do dia.

O evento começou em grande, com CARLOS AUGUSTO, o empreendedor arrojado, que falou sobre os ladrões de sonhos, ou seja, agentes internos ou externos que podem destruir sonhos ou planos futuros. CARLOS CARVALHO, jornalista e professor universitário, numa breve lição de economia, fui contundente na sua explanação, ao comparar Angola, África do Sul e Botswana, no que se refere ao dinheiro gasto em três áreas: Saúde, Educação e Defesa/segurança.

Um dos grandes momentos do dia, foi SÓNIA FERREIRA, Humanitária, ex pioneira da OPA, falou-nos de sua organização humanitária, ong okutila, e do seu trabalho incansável em prol de crianças desfavorecidas. No momento, dirige um centro de acolhimento no Huambo, que esta ajudando mais de 60 crianças.

Outro dos momentos altos do dia, foi a palestra do português MIGUEL GONÇALVES, o psicólogo atípico. O Autor, de forma cativante e eloquente, falou-nos de sua empresa, a Spark Agency, que tem a missão de criar interfaces entre empresas e pessoas, principalmente jovens. Suas palestras são verdadeiras aulas, onde da orientações de como se destacar na vida, como se apresentar para o mercado, ensina-nos o que realmente os gestores e empresários procuram nos seus colaboradores, etc etc, sempre de forma muito cativante. Uma das colocações dele, que arrancou fortes aplausos da plateia, foi a seguinte: “Se es o aluno mais inteligente da turma, estas na sala errada”. A dica que fica é: junta-te aos melhores!

ALINE FRASÃO, linda e espontânea como sempre, começou sua apresentação ao ritmo do kissanje, e em seguida, com a musica TANTO, que tanto furor já tem feito por ai. Ambas as musicas pertencem ao seu novo trabalho Movimento.

O TEDx faz apologia a imaginação e criatividade, e por este motivo, até a refeição é fora do padrão. Em ambas as edições, foram servidos pratos angolanos, mas no formato gourmet. Se na primeira edição foi funge, na segunda, o famoso mufete; com todos os integrantes do prato: Batata doce, Banana pão, peixe e feijão (moído em forma de papa). O coffe brake foi constituído igualmente por sabores angolanos, como sumo de mucua, kissangua, dentre outros doces e petiscos. As refeições são da autoria do restaurante 688.

Momentos culturais não podiam faltar num evento com este. O grupo ABADÁ CAPOEIRA abriu o dia com uma apresentação de ungo, e com uma surpresa bastante agradável: Uma apresentação de Ungo de seu lider mestre Kamosso, com 91 anos, mas com força suficiente para nos demostrar os seus dotes com o instrumento musical. Demonstrações de capoeira e até uma aula de pilates, igualmente marcaram presença.

Em suma, não haveria melhor forma de se cumprir a missão a que este movimento se propôs: Partilhar ideias com objectivo de mudar atitudes, vidas e em ultimo caso, o mundo. Acredito que todos os que se retiraram por aquela porta, já para lá das 22 horas, saíram de lá enriquecidos mentalmente e estimulados a agir, trabalhar para que possamos construir uma Angola, e porque não, um mundo melhor.

AS CENTRALIDADES DA HUMILHAÇÃO

•Fevereiro 22, 2013 • Deixe um Comentário

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Caros leitores.

Como ja é sabido por todos, a compra de casas nas novas centralidades está longe de ser um mar de rosas, pacífica e tranquila. Ao contrario, há que se fazer das tripas coração para se conseguir colocar o nome entre os inscritos.

Vou partilhar um e-mail que recebi, de uma colega de trabalho, com um depoimento de quem viu in loco a situação constrangedora que se vive na centralidade do Kilamba.

Eis o depoimento:

“Querem saber o que se passa na ” centralidade do Kilamba”?

Pois bem, o Manuel Fragao foi lá espreitar, e relata de uma forma simples, mas magistral, o que apreciou nas ” partes envolvidas, envolventes, e demais obscuros envolvimentos “.

RECOMENDAÇÃO; que cada RESPONSÁVEL nas diversas áreas intervenientes (Vice-Presidente, Manuel Vicente, /Edeltrudes Costa,/ Bento Bento e outros membros do Executivo) e claro os “membros da administração da Sonangol e da Sonip” , e a tal ” Delta” , tudo sem mencionar nomes, que aquilo é mesmo a granel e conforme o gosto e a disposição ( de interesses) , se RECOMENDAVA vivamente que reflectissem , ou mandassem reflectir pelos hostes menores dos seus respectivos gabinetes , todo esta descarrilada ” operação imobiliária, para evitar semelhantes atropelos no futuro.

Como se fora um “Relatório Oficial” de um Fiscal da Nação, com a vénia passo a citar o Manuel Fragão:

“SONIP & DELTA VS POVO = HUMILHAÇÃO

Tive o desprazer de fazer o périplo pela centralidade do Kilamba durante dois dias e constatei o seguinte:

OS FUNCIONÁRIOS

Cada agência da delta imobiliária (agora são 3) se propõe a atender 400 pessoas por dia mas na pratica atende pouco menos de 200, presume-se que os outros 200 sejam atendimentos fantasmas, visto que existe uma clara certeza da cobrança de 500 usd para entrega dos documentos.

O negocio ficou tão lucrativo que tem jovens que pernoitam pelo Kilamba transformandos em STAFF (organização) que depois cobram o mesmo valor por cada ficha, se revezando e colocando nomes de pessoas que nem sequer se encontram no local para assegurar outros lugares. A rede estendeu-se até as bombas de combustível próximas e pelo Kero aonde abordam o povo faminto pelas bichas (filas) e pelos dias passados a dormir no chão.

Naturalmente que o pessoal de asseguramento da policia nao haveria de ficar de fora deste quinhão, afinal isso é Angola e todo mundo se vira como pode, pra eles o preço ronda entre 200 a 400 usd, seja o interessado policia ou nao.

MILITARES & POLICIAS

Foram feitas filas diferentes devido às galhetas que ocorreram entre os homens da farda, MININT de um lado, FAA do outro, devido ao status da situação os oficiais superiores dos dois lados também deram o ar da sua graça e sendo priorizados pelos oficiais subalternos que mais tarde se revoltaram porque parece que os tais ligavam aos outros e a fila dos reles subalternos nao andava.

Começaram as faltas de respeito aos oficiais superiores e com ordem de que nenhum mais por ali passaria, facto este que obrigou os oficiais superiores a fazerem uma fila defronte ao edifício da Delta.

A ementa tinha de tudo, de subcomissarios, brigadeiros e até deputado, só nao vi nenhum general ou comissário, mas nos zunzuns do povo ficou a questão: esses nao têm casa? Será o problema do nossos dirigentes (MEGALOMANIA) Será para os filhos? será para as miúdas? Ou será apenas casa de abate ( estar por lá com miúdas evita alguns gastos e constrangimento­s de hotéis). Os Militares e os policias reclamavam, na hora do problema somos sempre os primeiros na linha da frente…. Cabaz bom é pra eles, carro é pra eles, nem casa temos direito e também temos que lhes dar prioridade, merd… pra isso, TAMBEM QUEREMOS CASA. Notei que o barril de polvora por aqueles lados estava aceso, afinal os caras tinham razão.

O POVO

Como a SONIP e a DELTA marimbaram-se para o povo, este por sua vez tinha que se articular mediante listas, cuja presença devia ser às 16h, as 20h, as 0h, e as 4h da manhã, caso faltasse a umas das chamadas o seu nome que estava nos números 50, rapidamente se transformava em 2182. Notei que até uma pagina no facebook foi criada para actualização dos nomes, o desespero era tanto que as pessoas tentavam a todo custo se organizar diante da displicência da SONIP & DELTA.

Mulheres ficam dias sem tomar banho porque o regresso a casa com o nosso trânsito e as tais actualizações das listas nao perdoam. Vi mulheres sujas, sem rimel, sem baton, apenas com ramela e o desvio da baba pelo rosto, vi a forma como o povo foi deixado a sua sorte, pois nao acredito que nos super cérebros dos técnicos e Directores SONIP ninguém tenha pensado numa forma de inscrição que evitasse o caos que agora se verifica.

OS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS.

Não entendi porque raios, os ministérios, serviços ou caixas sociais estão inertes diante da situação, pois a emissão de um oficio com os documentos dos interessados diminuiria muito a vergonha que agora se verifica e aparentaria que os serviços estavam preocupados com o bem estar dos funcionários afinal dar jajão tem as suas vantagens, mas infelizmente nem isso conseguiram fazer, a produção da cidade baixou porque todo mudo marimbou-se para os chefes e para os serviços pois o sonho da casa própria pode ser adiado sine die.

CARICATO

Um indivíduo dormindo no chão desperta as 2h da manha e entra em pânico, diante do tantos corpos inertes ele pensa que todos estão mortos e ele é o único sobrevivente, instala-se o pânico… Estou aonde (esqueceu que dormiu no chão duro da nova centralidade) Todos morreram e eu sou o único que estou vivo, socorroooo as pessoas acordaram e o indivíduo levou pouco menos de um minuto para ser acalmado e voltar a realidade dura onde estava….

Devido a prioridade que estava a ser dada aos deficientes, e doentes, alguns foram buscar os pais doentes em casa, os primos, os vizinhos ( o objectivo era entrar, pois o processo nao precisa ser personalizado),­ soube que alguns deficientes estavam a cobrar também para tal desiderato, afinal o sistema articula-se por si. Senhoras que levaram as crianças para alegada prioridade, mas encontraram um batalhão de cérebros que pensaram o mesmo tendo que fazer uma fila igualmente enorme pra elas com as gravidas incluídas.

Notei que o povo foi levado ao limite da humilhação e que provavelmente ninguém esquecera as vicissitudes que passou para conseguir tais imóveis e que a seu tempo respondera a isso. O Kilamba transformou-se no novo ponto de encontro, vi amigos de longa data que nos chamam por aqueles nomes que nunca mais ouvimos, vi colegas de faculdade alguns transformados em magistrados mas na mesma luta, vi a realidade da nossa vida que tem estado escondida dentro de casa (arrendada), vi o espirito ser torcido, o orgulho fugiu, a vergonha afastou-se, a vaidade esgueirou-se, a arrogância nem foi pra lá, vi força, vi perseverança, vi oportunismo, vi conquistas, vi sorrisos na dificuldade, EU VI O POVO A SOFRER.”- Fim de citação.

( CC: cópia para Membros do Executivo/Casa Civil/­Administração Sonangol/ SINIP-Delta/­Redacção ” Jornal de Angola”/ Comando das Forças de Segurança Pública/Forças Armadas/ POVO EM GERAL ).

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Este depoimento é conclusivo o suficiente, para se ter noção de como esta a se realizar a venda de casas. Refletindo um pouco, bem, como absorvendo o que foi dito a respeito do assunto, escrevi umas poucas linhas que podem ser pertinentes.

Porque não se implementaram formas alternativas de inscrição? Não seria possível ter-se criado um departamento no ministério da habitação, na propria Sonangol, para os seus funcionarios, ou algo semelhante?

Inscrições pela internet seria outra boa opção. Alias, la fora, sempre que acontecem este tipo de “eventos” de abrangencia nacional, se criam serviços online, sejam sites, paginas ou portais. Aqui, “népias”.

Os funcionarios da sonangol nem sequer tiveram um departamento nos seus estabelecimentos, ou um atendimento em separado, apesar de as casas serem vendidas por esta mesma empresa.

Nem mesmo os já inscritos no quase extinto projeto cajueiro, e que estão a pagar a cota desde 2000, tiveram qualquer atendimento preferencial ou prioritario.

O mais importante para o triaangulo Delta-Sonip-Executivo, parace ser mesmo os cifrões a serem pagos pelas casas. Isto porque os inscritos tem apenas conco dias para entregar o montante correspondente, que pode abranger somente a renda de um ano, ou acrescido do capital iniciala. Estes valores podem passar os 20 mil dolares, dependendo do tipo de casa.

Mais uma vez, o pais mostrou que avança ao pé cochinho! Não se consegue criar ou organizar ada que seja um exito; tirando claro está, comícios, festas e afins. Ai, tudo sempre corre maravilhosamente bem, ninguem fica sem pincho e muito menos sem cuca!

Não se vê (pelo menos eu não me apercebi) nenhumplano alternativo para contornar esta situação lastimavel. O governo teria a obrigação de intervir, não só criando um plano alternativo, mas também pondo cobro aos esquemas de currupção e punindo os aproveitadores que sempre aparecem neste tipo de ocasioes.

Assim, parece que o executivo apenas faz as coisas para “ingles ver”, para mostrar na TPA e no JA, que está a resolver os problemas do povo, para nos despachar e para se livrar de qualquer maneira dos problemas pendentes do país. Verdade seja dita, nós, o povo nada fazemos para granjear o respeito e a consideração do tal do executivo.

Jornalismo em Angola nas Vésperas das Primeiras Eleições Atípicas

•Junho 21, 2012 • 2 comentários

Como já é de conhecimento geral, tanto a nível mundial como a nível internacional, as próximas eleições, a ser realizadas em conformidade com a nova Constituição da República de Angola (modelo eleitoral atípico), agendadas para 31 de Agosto de 2012, serão as primeiras do género no país (e provavelmente no mundo, mas isto é materia para outra ocasião). Perante tal facto, não podemos deixar de observar o comportamento dos principais órgãos de informação do país durante esta época crucial da nossa história. Alguns comentários sobre essa matéria seguem:

A motivação (e inspiração) para escrever este artigo foi, na verdade, um comentário lido no site Club-K, onde o comentador, depois de expresser a sua opinião, “postou” a «equação» “CLUB-K = TPA * -1” seguida do comentário “(pra quem entende de matemática sabe bem o q isso significa)!!!”. Recorrendo (talvez até erroneamente) às minhas parcas noções da «ciência dos números», descortinei essa expressão, o que me levou a crêr que o comentador quis dizer que a TPA e o Club-K são, de facto, a mesma coisa, mas em lados opostos da linha numérica.

Ora, seria redundante e talvez até supérfluo dizer que a TPA, em termos de jornalismo no contexto eleitoral em que vivemos no país, parece mais uma ferramenta de propaganda política, ou como já tivera sido [adequadamente] apelidada, um órgão de «desinformação» do Governo (para quem duvida disto basta assitir uma edição qualquer do telejornal, o principal serviço noticioso da estação). Podemos até estender essa afirmação aos outros órgãos de informação estatais, nomeadamente a RNA (numa escala similar à TPA) e o ínfame Jornal de Angola (que na minha opinião, representa o cúmulo do jornalismo e provavelmente até já deveria ser encerrado, ou no mínimo, ter mudado de administração)!

Em contrapartida, quanto a «equação» proposta anteriormente, acredito que seja verdadeira até certo ponto. O Club-K é, claramente, um portal de informação anti-Governo. Ou isso, ou os artigos pró-Governo ou simplesmente neutros políticamente não satisfazem o critério de selecção do referido portal. Um dos motivos pelo qual digo isso é o conteúdo de artigos na secção de opinião do portal. Na sua maioria, são anti-Governo, com alegações muitas das vezes infundadas e altamente tendenciosas. Este artigo foi escrito no dia 21 de Junho de 2012, mas acredito que mesmo após esta data a situação permanecerá a mesma! Adicionalmente, em outras secções do referido portal, podemos encontrar títulos como “CNE em vias de contratar a mesma empresa que ajudou alterar os resultados das eleições de 2008” e mais gritantemente “BP do MPLA faz de William Tonet bode expiatório para desviar atenções da manifestação dos ex-militares”, uma notícia obtida através da Angop cujo conteúdo sofreu apenas alterações mínimas e o título original é «MPLA desmente participação de William Tonet no movimento guerrilheiro». A explanação sobre o assunto poderia até provavelmente levar algumas páginas se fossemos dissecar detalhadamente o que considero «falhas jornalisticas» deste portal, então uso essas apenas a título de ilustração, confiante que qualquer leitor apartidário, ou pelo menos íntegro, saberá reconhecer outros atropelos cometidos por este portal. Porém, não obstante as afirmações feitas acima, ainda acredito que em termos jornalísticos, o Club-K é superior aos órgãos estatais previamente mencionados neste artigo.

Concluindo, infelizmente durante este periodo crucial da nossa história, as informações que chegam até as pessoas mais interessadas são altamente partidarizadas, tendenciosas e invariavelmente sensacionalistas, influenciando os leitores, telespectadores e ouvintes da maneira desejada pelos autores das mesmas. Infelizmente, a prática de jornalismo independente, apartidário e efectivamente apolítico, jornalismo focado no acto de informar o cidadão, jornalismo no verdadeiro sentido da palavra, ainda não se faz sentir no nosso país, tanto por parte dos apoiantes, tanto por parte dos opositores do governo, excepto alguns esforços evidenciados por alguns semanários da nossa praça.

É importante salientar que um órgão de comunicação com as características descritas acima, com jornalistas capazes de analisar aspectos concernentes a todos os Angolanos da maneira apresentada no parágrafo anterior, é um requisito INDISPENSÁVEL tanto para a instauração da Democracia em Angola, como também para o desenvolvimento social, politico, económico, académico (educacional), cultural, etc… da nossa Nação. A informação verdadeira, sem agendas ocultas, é a base para a prosperidade de uma nação no contexto mundial actual, especialmente no contexto africano, que é essencial criar uma autonómia e o desenvolvimento a se alcançar deve ser auto-sustentável (tal como anteriormente, esta também é material para outra ocasião).

Victor de Barros

Sacos com a Mesma Farinha

•Abril 1, 2012 • Deixe um Comentário

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Já tivera lido algures, em alguma ocasião, que a política é um assunto demasiado sério para ser deixado apenas para políticos. Perante a situação vivida no nosso país, não poderia concordar mais com tal afirmação.

De facto vivemos sob o jugo de uma “geração da distopia”; de facto temos um país de rastos, com uma economia fragilizada e com um sistema governativo no mínimo questionável; de facto estamos muito aquém de concretizar o potencial da nossa nação… É verdade, contra factos não há argumentos.

Contudo, a questão que advém de tais factos é a seguinte: o que fazer com relação às questões levantadas? Desculpando-me antecipadamente pela insolência, acredito que os políticos angolanos não demonstram nem noções, nem a capacidade de dar respostas às mesmas: enquanto uns negam contudentemente uma realidade irrefutável, outros personificam essas mesmas verdades, dando um carácter demoníaco ao suposto responsável destas. A minha sugestão para a resolução de tal situação consiste na criação de uma nova disciplina: engenharia política.

Durante a minha carreira estudantil, um dos didactas mais emblemáticos afirmou repetidamente que só nos tornaríamos verdadeiramente engenheiros quando entendessemos que tudo depende, que tudo é relativo… e actualmente não só entendo como também compartilho desta opinião. Esta característica infelizmente não é notável nos políticos angolanos. Adicionalmente, a aptitude de resolução de problemas dos nossos políticos deixa muito a desejar: de todos os lados, a atitude apresentada pode ser resumida em “ou é à nossa maneira, ou nada”, geralmente apoiada de leis ou recém elaboradas, ou incostitucionais, ou a serem aprovadas, e por aí em diante!

Um engenheiro político entende que, primordialmente, os interesses do POVO estão em primeiro lugar. Entende que na maior parte dos casos, as necessidades excedem os recursos disponíveis, entende que para haver mudanças devem haver sacrifícios. Muito além disso, tem a capacidade de definir prioridades em termos de alocação de recursos, a capacidade de determinar quais os sacrifícios necessários e de moldar esses mesmos elementos de acordo aos diferentes contextos vividos. Por fim, a característica fundamental de um engenheiro político, como a de qualquer engenheiro, é deter a habilidade de criar as ferramentas necessárias para o alcance dos seus objectivos.

Infelizmente, o nosso governo ainda usa, desnecessáriamente, práticas exageradamente autoritárias para assegurar a sua preeminência. Infelizmente, a nossa oposição é totalmente dependente das deficiências do governo actual, nunca agindo, com grande significância, de uma maneira autónoma, excepto em raras ocasiões. O nosso governo usa da força bruta e a nossa oposição chora pelos cantos, hora como uma criança sensível, hora como um adolescente rebelde. Enquanto o governo censura  a liberdade de expressão, a oposição defende a liberdade de expressão de um povo analfabeto, que pode muitas das vezes nem ter a capacidade de determinar o melhor para si. Os problemas nunca são endereçados, quanto mais resolvidos. Os interesses pessoais nos dois lados se sobrepõem-se aos interesses do povo. A luta política resume-se à uma elite de um lado arrogante e de outro ressentida, geralmente com alto nível acadêmico, que ignora as verdadeiras necessidades do povo analfabeto, que ao invés de casas, estradas e até mesmo escolas e tudo mais, neste momento necessita prioritáriamente de conhecer, e mais importantemente exercer os seus deveres e exigir os seus direitos de forma consciente, sem precisar que terceiros determinem os seus destinos constantemente ao invés de representarem na realidade o seus interesses.

Falo para cidadãos como cidadão: tendo como referência a activadade política actual no país, eu, particularmente, não me revejo nos políticos da nossa praça, tanto os do partido no poder como os da oposição. Eu não acredito que eles têm o meu interesse como sua prioridade. Eu respeito personalidades como Adolf Hitler, e mais localmente Jonas Savimbi, porque não obstante a sua aparente demência, eles são exemplos vivos da engenharia política descrita acima. Eu respeito personalidades como Mfulupinga Lando Victor, pois para além de defender o meu direito à uma casa, uma escola, um professor, ele me fazia entender porquê deveria usufruir destes direitos, como também as razões pelas quais isto não acontecia, fossem elas quais fossem. Em suma, precisamos de instrução para falarmos por nós e não de um grupo de interesse que determine as nossas necessidades. Em nenhuma ocasião os políticos alcançaram progresso; isso é o dever e direito do povo. Tal como não cabe a Deus atingir a salvação mas sim guiar os crentes à este caminho, os políticos devem estar cientes do seu papel como meros guias do povo, atribuindo-lhe as características necessárias para o alcance da sua “terra prometida”.

Nas vêsperas de mais um pleito eleitoral, a falta de respeito dos partidos políticos para com o povo é grotesca. A arrogância e o egoísmo dos mesmos é gritante. A indefernça para com a real situação do povo é evidente embora com esforços para a desfarçar. A maioria de nós são apenas números. Os nossos interesses apenas recebem atenção se forem totalmente pró ou contra o governo. Devemos pertencer à uma elite ou ser agredidos em manifestações para sermos considerados na verdade. Infelizmente esta é a realidade… É verdade, contra factos não há argumentos. E perante isso eu pergunto: POVO, o que fazer com relação às questões levantadas?

Victor de Barros

Angolanos, vamos permitir isto??

•Março 13, 2012 • Deixe um Comentário

Irmãos, o que pode ser feito a respeito disto?

quero ler as vossas opiniões!!
Os pacientes Inglês

Juventude de Angola a liderar o caminho para derrubar o Presidente dos Santos

•Novembro 13, 2011 • Deixe um Comentário

Título original: Angola’s youth lead the way to unseat President dos Santos

Mais um artigo publicado na imprensa estrangeira, que merece ser traduzido em portugues, e compartilhado aqui com os nossos leitores. O autor, o nosso irmão Rafael Marques, e a portuguesa Susana M. Marques, mais uma vez mostraram o profundo conhecimento da realidade política e social angolana colocando o dedo na ferida, ferida esta aberta a muito tempo e que necessita de ser cicatrizada rapidamente.

Segue o artigo na íntegra:

Depois de ganhar uma das mais longas e violentas guerras civis do continente Africano, o Presidente de Angola José Eduardo dos Santos tem sido focada em consolidar e expandir seu alcance. Estes esforços culminaram na constituição de 2010, que formalizou seu controle sobre o Estado, o executivo, o órgão legislativo e os tribunais. A Constituição estabelece ainda uma forma sui generis de eleger o presidente. O primeiro nome na lista do partido vencedor das eleições legislativas torna-se automaticamente presidente, evitando assim, por parte da população ou da assembléia nacional, à escolha direta do seu presidente.

Até recentemente, a maioria dos angolanos têm permanecido em silêncio face a ganância pelo poder de José Eduardo dos Santos e a corrupção flagrante do regime. Tinham se resignado com o estado atual de coisas temendo um retorno à sangrentas guerras civis do passado.

Isso foi antes de revoltas populares no norte da África, mostrar que os “líderes de longa duração” poderiam ser retirados do poder sem o país mergulhar em uma guerra, e mesmo na ausência de uma alternativa clara liderança. Isso deu esperança aos angolanos, particularmente os jovens. Cidadãos liderados por alguns dos mais famosos rappers revolucionários, como Brigadeiro Mata Frakus, Carbono Casimiro e Explosão Mental, usaram mídias sociais e mensagens de texto para organizar protestos anti-governamentais. Depois de uma primeira tentativa em março, cerca de 200 jovens se reuniram na capital, Luanda, em maio, para protestar contra o reinado de 32 anos de dos Santos. Quatro meses depois, em 03 de setembro, eles voltaram às ruas usando camisetas dizendo: “32 é muito”, protestando contra a escassez de energia e água, a corrupção e apobreza. Em ambos os casos, o governo reagiu com violência, fazendo prisões e abusando fisicamente de vários manifestantes e repórteres.

O julgamento dos líderes do emergente movimento de protestos, que levou à prisão de 18 deles, gerou um novo protesto em seu apoio, em frente ao tribunal. A polícia desencadeou atos de violência e prendeu um líder do grupo da juventude do partido da oposição, Mfuca Muzemba, entre 27 outros indivíduos, que foram testemunhar o julgamento ou estavam simplesmente de passagem. As autoridades tentaram coagir esta segunda onda de prisioneiros a ponto de apontar dedos para os EUA ou a França como os supostos instigadores de tal sentimento anti-governo. O juiz do regime teve de absolver os 27 presos vítimas da fabricação bruta de provas e afirmações contraditórias por parte da polícia.

Apesar de décadas de aniquilação física e política implacável dos adversários, uma banda de jovens, sem filiação partidária, fundo cívico ou uma visão articulada política,está tomando a liderança pública para derrubar o presidente. Isto é o que é preocupante para os detentores do poder.

O que tem feito estes protestos tão significativo não é tanto a coragem alguns, mas a total incapacidade do regime para manter a calma e compostura quando alguns poucos clamam para que o presidente renuncie. É reação violenta do MPLA é que faz o protesto atinja um patamar internacional e seja um catalisador para a solidariedade entre as pessoas.

Em uma tentativa de angariar apoio público para o presidente e desacreditar os manifestantes como um bando barulhento, o MPLA mobilizou alguns milhares de militantes e realizou várias passeatas em 24 de Setembro, em diferentes bairros da capital. Fê-lo com o fechamento dos mercados e ameaçando tomar medidas contra aqueles no setor público, particularmente nas escolas, que se recusaram a participar. No dia seguinte, mais de 100 pessoas organizaram uma marcha até a Praça da Independência para exigir a renúncia do presidente e liberdade para os 18 líderes de jovens presos em 03 de setembro que estão atualmente servindo sentenças de prisão. Os manifestantes só foram capazes de caminhar por 10 minutos antes de se depararem com um forte bloqueio da polícia. A polícia atacou os jornalistas para impedir a cobertura do confronto com os manifestantes, e produziu uma outra pequena vitória para estes, em desgaste a imagem do regime em casa e no exterior.

O bloqueio é uma reviravolta interessante de eventos na história do regime autoritárioem Angola desde a independência em 1975. Na semana anterior, o governo proibiu qualquer manifestação na Praça da Independência que, até março passado, tinha sido o grande palco para todos os grande mobilização e eventos de massa pelo MPLA em seus anos 36 do poder. Agora, o regime teme Praça da Independência poderia ser transformado em uma Praça Tahrir, para a juventude vê-lo como um símbolo para uma segunda independência, desta vez do regime e seu governante de longa data, Dos Santos.

Dos Santos agora se tornou a principal causa da volatilidade que Angola está experimentando atualmente. Depois de anos de evisceração das instituições de Angola para tomar o poder para si, Dos Santos privou o país de bem-testados mecanismos para lidar com as crescentes demandas de seu povo e aos choques externos. Não só isso, mas ele também não conseguiu nomear sucessores no âmbito das instituições que ele criou e controla, estabelecendo o palco para lutas de sucessão potencialmente destrutivos. Relatórios recentes sugerem que Dos Santos pode nomear o executivo-chefe da companhia petrolífera Sonangol como seu sucessor, mas não há indicação clara de queDos Santos vai realmente fazer a nomeação. Na verdade, muito parecido com Louis XV, em sua época, o presidente parece determinado a governar Angola em seus termos até o fim, mesmo depois dele, vem o dilúvio.

Esta foi uma tradução do artigo. Alguns erros que possam ter sido cometidos, são da inteira responsabilidade dos administradores do blog.

Para ler o artigo original, basta seguir o link: http://bit.ly/ofXjkP

Autores do Artigo original: Rafael Marques de Morais, Jornalista e ativista angolano, e Susana Moreira Marques, jornalista freelancer portuguesa.

Artigo publicado no jornal britânico The Guardian. http://www.guardian.co.uk

A ganancia pelo poder de José Eduardo é muito perigosa para o país

•Outubro 20, 2011 • Deixe um Comentário

Marcolino Moco, ex ministro do regime MPLA, e agora um crítico assumido de José Eduardo/MPLA, e defensor dos direitos humanos em Angola, disse, ao famoso jornal BUSINESS WEEK, que:

A ganancia do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, à 32 anos no poder é “muito perigoso” para o país.

Publicamos abaixo o artigo traduzido.

O povo angolano desfruta de menos liberdades individuais e direitos humanos hoje, do que durante o período de governo de partido único entre 1975 e 1992, Moco, um professor de Direito da Universidade Agostinho Neto, disse a jornalistas ontem na capital, Luanda.

O movimento Popular dos Santos para a Libertação de Angola, ou MPLA, ganhou 82 por cento dos assentos nas eleições de 2008 parlamentares, o primeiro em 16 anos. O partido mudou a constituição para que os legisladores eleijam o presidente, demolindo a votação pública prevista para 2009.

Na semana passada MPLA sinalizou pela primeira vez que a era Dos Santos na vice produtora de petróleo da África subsahariana pode estar chegando ao fim. O presidente pode demitir-se antes ou depois das eleições parlamentares do próximo ano, Rui Falcão de Andrade, membro do bureau político do partido, disse em uma entrevista de 06 de setembro.

Um tribunal em 12 de setembro condenou 18 manifestantes que exigiam o fim da presidência José Eduardo dos Santos a três meses de prisão, e sentenças similares estão pendentes contra cerca de 30 dissidentes mais. a organização “Human Rights Watch” (Defesa dos direitos humanos) condenou os ensaios, e Moco disse as sentenças vão mostrar se os tribunais são independentes de Angola ou uma “extensão” do executivo.

Moco foi primeiro-ministro entre 1992 e 1996. Ele foi demitido por Dos Santos depois de propor negociações para pôr fim a guerra civil que começou com a independência do país em 1975, demarcando-se dos ideais do seu seu ex partido, de que os rebeldes devem ser esmagadas, de acordo com reportagens da época.

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Para ler o artigo original:
Editores: Ben Holland, Heather Langan.

Para contatar o repórter nesta história: Candido Mendes, em Luanda,cmendes6@bloomberg.net.

Para contactar o editor responsável por essa história: Sguazzin Antony emasguazzin@bloomberg.net.

Kopelipa e Manuel Vicente – Os vendedores de casas sociais – Por Rafael Marques de Morais

•Setembro 29, 2011 • 6 comentários

Rafael Marques de Morais (Luanda, 31 de agosto de 1971) é um Jornalista e ativista dos direitos humanos angolanis cujos relatórios sobre a industria de diamantes e a corrupção governamental têm lhe conquistado aclamação internacional. Ele atualmente dirige a sítio na Internet anti-corrupção Maka Angola (www.makaangola.com)

Fonte: Wikipedia.org

Iremos aqui publicar um dos seus vários artigos que relata mais um facto de extrema corrupção em Angola, e que apesar disso, ainda serve de bandeira política do regime, para os olhos internos e do exterior. Segundo palavras do próprio autor, “um um verdadeiro modelo de corrupção em África, se tornou no principal cartão-de-visita das autoridades angolanas.” Ou seja, uma dupla vitória para o regime do Zé du. (ou será rei Dú?). Leia o artigo que se segue.

 

 

Desde Julho passado, milhares de cidadãos angolanos residentes em Luanda têm desesperadamente envidado esforços para adquirirem apartamentos sociais no Kilamba. Os preços praticados pela empresa encarregada das vendas, a Delta Imobiliária, variam entre US $125 mil e US $200 mil por apartamento. Esses valores especulativos e aparentemente incompreensíveis para um projecto social do Estado, bem como a revelação dos nomes dos sócios da Delta Imobiliária, configuram mais um escândalo de corrupção.

Em 2008, a promessa eleitoral do presidente da República para construir um milhão de casas ao longo de quatro anos afirmou-se como triunfante. Ajustado à capacidade real de construção de apenas alguns milhares de casas, o projecto de habitação social do Kilamba tornou-se o símbolo deste sonho prometido ao povo.

A cargo da empresa estatal chinesa CITIC, o projecto envolvia inicialmente a construção de um total de dois mil edifícios residenciais e infra-estruturas de apoio, num valor global de US $3,5 mil milhões, conforme dados disponibilizados pela construtora no seu sítio online .

A CITIC procedeu à entrega do primeiro lote de 115 edifícios, correspondentes a 3118 apartamentos, a 11 de Julho de 2011, numa cerimónia presidida pelo chefe de Estado José Eduardo dos Santos. Este havia reconhecido, no seu primeiro discurso sobre o estado da nação alguma vez feito na Assembleia Nacional, a 15 de Outubro de 2010, que “o sector em que a situação é muito má é o da habitação. Mais de 70 por cento das famílias angolanas não têm casa condigna. Neste domínio, temos que fazer um esforço gigantesco para revertermos a actual situação”.

Os angolanos têm sido assolados por uma onda de indiferença presente nos discursos e comportamentos contraditórios dos seus dirigentes e cujas consequências são nefastas para a sociedade. Apesar de Angola ser um país extremamente rico em petróleo, a maior parte dos angolanos encontra-se entre as pessoas mais pobres do mundo; o produto interno bruto per capita é de US $4,941/ano, ao mesmo tempo que mais de metade da população (54,3 por cento) vive abaixo do limiar de pobreza, com US $1,25/dia.[1] Por um lado, regista-se a nobre ideia de construção de casas sociais e, por outro, assiste-se à sua especulação exorbitante, conformando políticas de exclusão social, económica e política daqueles a quem o projecto é dirigido.

No seu discurso de inauguração parcial do bairro social do Kilamba, o presidente José Eduardo dos Santos considerou-o como “o maior projecto habitacional jamais construído em Angola [constituindo], à escala global, um profundo exemplo da política social levada a cabo no país para resolver o défice habitacional”. De forma eloquente, o presidente afirmou que o seu executivo vai “ensaiar aqui um novo modelo de gestão urbana, que seja funcional, simples, racional, transparente e cumpridor das suas atribuições, capaz de encontrar as melhores soluções para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.”

Força Delta

A presente investigação centra-se exclusivamente na gestão do projecto e na sua transparência. A Delta Imobiliária – Sociedade de Promoção, Gestão e Mediação S.A, a quem se atribuiu a responsabilidade da venda dos apartamentos, foi criada a 27 de Dezembro de 2007. Tem como sócios o presidente e director-geral da Sonangol, o ministro de Estado e chefe da Casa Militar e o principal conselheiro deste, respectivamente: Manuel Vicente, general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa” e general Leopoldino Fragoso do Nascimento. A empresa apresenta, como testas-de-ferro, funcionários da Casa Militar – os coronéis José Manuel Domingos “Tunecas”, João Manuel Inglês e Belchior Inocêncio Chilembo, bem como o assistente privado do general Kopelipa, Domingos Manuel Inglês “Avô Inglês”, os quais representam 0,16 por cento do capital social da empresa. No mesmo dia, representados pelo cidadão português Ismênio Coelho Macedo e com a mesma estrutura accionista, os sócios procederam também ao registo da empresa Delta Engenharia – Sociedade de Consultoria e Engenharia S.A.

A Nova Centralidade do Kilamba, denominação oficial do projecto, foi supervisionada, até finais de 2010, pelo então Gabinete de Reconstrução Nacional (GRN), afecto à Casa Militar do presidente da República e dirigido pelo general Kopelipa. Esse gabinete foi criado em 2004 para negociar a aplicação de empréstimos chineses, até agora orçados em US $15 mil milhões, em obras de reconstrução nacional por si definidas. Ao GRN, coube também a gestão dos fundos e a supervisão dos trabalhos.

A 27 de Setembro de 2010, José Eduardo dos Santos transferiu formalmente todas as responsabilidades do GRN sobre o projecto Kilamba e outros projectos similares em Luanda para a Sonangol Imobiliária, uma subsidiária da petrolífera estatal .

Apesar da falta de justificação oficial para a entrega do maior projecto de habitação social do Estado à Sonangol, analistas chineses oferecem a explicação possível: “A CITIC tem estado a tentar financiar o projecto com o seu próprio dinheiro, porque o governo já não o tem. Entregou o projecto à Sonangol, que recentemente pagou as prestações em falta. A CITIC teve de investir US $350 milhões do seu próprio banco para continuar o projecto e manter os dez mil trabalhadores chineses no local.”

Quaisquer das opções adoptadas pelo Estado determinam a contínua injecção de fundos públicos no projecto, desta vez por investimento directo da Sonangol, cujo patrão, Manuel Vicente, tem sido, a par do general Kopelipa, personagem central nas negociações com a China. Os empréstimos são pagos com carregamentos de petróleo.

A contratação da Delta Imobiliária, pela Sonangol, para a venda dos apartamentos sociais do Kilamba atropela, de forma extensiva e arrogante, a legislação em vigor. A Lei da Probidade Pública qualifica como acto de corrupção conducente ao enriquecimento ilícito o recebimento de vantagem económica, de forma directa ou indirecta, a título de comissão, entre outros actos, por acção “decorrente das atribuições do agente público” (Art. 25.º, 1.º, a).

Manuel Vicente, como responsável máximo da Sonangol, faz negócio consigo próprio ao engendrar a contratação da sua empresa privada pela estatal que dirige. Está em vias de obter lucros fabulosos, para seu enriquecimento pessoal, com a venda dos apartamentos, sob a forma da comissão que a Delta Imobiliária receberá pelo negócio. O mesmo argumento jurídico aplica-se ao general Kopelipa, uma vez que tem sido simultaneamente sócio da Delta Imobiliária, gestor máximo do projecto e indiscutivelmente influente junto do presidente José Eduardo dos Santos, a quem cabe a última palavra sobre a gestão do projecto.

Apesar da situação criminosa, a Presidência da República anunciou a inauguração do Kilamba e a gestão da venda dos apartamentos como um grande sucesso. “Consideramos esta promessa como cumprida, sendo que o Governo fez sair um comunicado onde anunciou os critérios de acesso aos apartamentos construídos na cidade de Kilamba cumprindo com a promessa feita ao povo”, assegura o ministro de Estado e chefe da Casa Civil, Carlos Feijó, na sua alocução trimestral sobre as realizações do executivo.

Cartão-de-visitas e modelo de corrupção

O projecto de habitação social do Kilamba tem sido apresentado pelo executivo de José Eduardo dos Santos como o grande modelo da sua política social.

Nos últimos dois anos, com bastante êxito, as autoridades angolanas têm convidado vários dignitários estrangeiros a visitar o projecto do Kilamba, conferindo-lhe não só notoriedade internacional mas também legitimidade interna. Os seus gestores usam o selo de aprovação das entidades internacionais para abafar as reclamações internas, enquanto “privatizam” o projecto para enriquecimento pessoal ilícito.

A presidente da Libéria, Ellen-Johnson Sirleaf, foi a mais recente estadista a visitar o projecto, a 12 de Setembro de 2011, tendo-o classificado como “grandioso e impressionante”, de acordo com a agência de notícias estatal Angop .

Em Agosto passado, durante a sua visita ao projecto, o presidente moçambicano, Armando Guebuza, considerou-o uma “maravilha” . O rei Mswati II, da Swazilândia, também lá esteve.

Por sua vez, o ministro angolano do Urbanismo e da Construção, Carlos Fonseca, falou em nome do presidente namibiano, Lucas Pohamba, quando este visitou o projecto, em Junho passado. “O Presidente gostou muito desta apresentação, naturalmente que tirou muitas lições deste grande desenvolvimento e acreditamos que poderemos prestar-lhe toda nossa solidariedade e tributo ao povo namibiano no que se refere a projectos do género.” Mais, o ministro disse que “estamos a dar um exemplo a toda África sob a perspectiva da nossa juventude que está desejosa de uma oportunidade de desenvolvimento e que este complexo habitacional vem mostrar que temos um compromisso com a juventude e com a nossa população” .

Em Junho passado, o presidente de Timor-Leste, Ramos Horta, também visitou o projecto e emprestou a sua voz ao coro da propaganda oficial: “Está de parabéns o Governo por este projecto e visão, que corresponde as ansiedades do sonho dos jovens, das famílias angolanas.”

O vice-presidente chinês, Xi Jinping, cujo país concede o crédito para o projecto, realizou, segundo o Jornal de Angola, uma visita de inspecção ao Kilamba, a 20 de Novembro de 2010 .

É caso para dizer que o projecto Kilamba, um verdadeiro modelo de corrupção em África, se tornou no principal cartão-de-visita das autoridades angolanas. O uso do crédito chinês, destinado a projectos sociais para as camadas mais desfavorecidas, passa a ser mais uma avenida, sem impedimentos, para que os dirigentes angolanos engordem as suas fortunas.

 

 

Manifestantes em Benguela reclamam terrenos!

•Setembro 26, 2011 • Deixe um Comentário

Cerca de duas centenas de populares marcharam hoje, desde imediações do aeroporto de Benguela, até a administração da cidade, reivindicando terrenos. Como ja é habito, a policia local dispersou e prendeu populares. O Administrador de Benguela teceu apenas breves declarações, entre elas, palavras não pouco amigáveis. Os populares afirmam ter em posse os documentos legais que comprovem a aquisição dos terrenos reivindicados.

Clique e oiça o audio no link abaixo.

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Fonte: Central 7311.

João Melo vs. Maurilio Luiele

•Agosto 16, 2011 • Deixe um Comentário

Dois artigos interessantíssimos que demonstram duas maneiras distintas de pensar, e duas escolas distintas de pensamento. Um, culpa a UNITA por todos os males de Angola, incluindo a corrupção. O outro desmantela o argumento no minímo falacioso do primeiro. Mas isto deixo ao critério do leitor. Boa leitura!

Kamala Numa é um dos responsáveis desta guerra estúpida – João Melo

Eu tinha programado escrever esta semana sobre a corrupção, usando como mote a recente exoneração do governador de Luanda.

Ao contrário do que insistem em repetir os sectores críticos (e também do que acreditam outras pessoas, que pensam, ingenuamente, ser possível continuar a manter impunemente determinadas práticas nocivas típicas do nosso passado recente), eu sou da opinião que alguma coisa está a mudar nesse domínio, embora ainda muito lentamente. Por isso, mais do que martelar a mesma retórica óbvia sobre a corrupção, considero mais produtivo destacar os exemplos positivos que começam a despontar e mostrar caminhos para aprofundar o combate a esse enorme malefício, que contamina toda a nossa sociedade e impede a sua mais rápida reconstrução.

Um facto ocorrido na última terça-feira, contudo, obrigou-me a mudar de tema. Refirome às ameaças proferidas aos microfones da Rádio Ecclésia pelo general Camalata Numa, actualmente deputado da UNITA, o qual, sem gaguejar, afirmou que, caso a Comissão Eleitoral Independente não correspondesse ao formato proposto pela oposição, existem no país líderes capazes de criar um clima de agitação similar ao dos países árabes, levando a população a exigir nas ruas a saída do presidente da República (ele ainda não sabia o que estava para suceder em Londres).

Ficou claramente subentendido das suas declarações que um desses líderes é ele próprio. Devo dizer, com toda a serenidade, que as afirmações do general Numa não me espantam. De facto, é impossível esquecer que, em 1992, ele era o chefe do Estado Maior General adjunto das Forças Armadas Angolanas e preferiu desertar, juntando-se ao então líder da UNITA, Jonas Savimbi, para retomar a guerra.

Esta arrastou-se durante dez longos penosos anos, de 1992 a 2002, atingindo um grau de destruição muito mais elevado do que os primeiros 16 anos de guerra civil e colocando Angola, literalmente, no fundo do poço. Só terminou com a morte de Savimbi e a derrota das forças militares da UNITA. Portanto, Camalata Numa é um dos responsáveis pessoais por essa guerra pós-eleitoral estúpida e desnecessária, cujos efeitos ainda se fazem e farão sentir por muito tempo, em todas as áreas, excepto para os que teimam em julgar que a guerra é uma brincadeira inocente e sem consequências.

As ameaças do general e deputado Numa confirmam mais uma vez, como se isso ainda fosse necessário, a natureza imutável da UNITA. Por detrás de toda a sua retórica supostamente democrática e da sua estratégia de autovitimização (que só convence os jornalistas ingénuos ou, pior ainda, os activistas disfarçados de jornalistas), a marca registada da UNITA é a provocação, a intimidação e a tentativa de criar um clima de crispação permanente.

Essas características estruturantes do (ainda) maior partido da oposição sobressaíram nas palavras do general e parlamentar à estação radiofónica católica, chocando mesmo aqueles, como eu, que não tem qualquer ilusão em relação ao referido partido (o que não me impede, entretanto, de ter em alta conta pessoal vários dos seus membros, que tenho o prazer de conhecer).

Não tenho a menor dúvida que a esmagadora maioria dos angolanos não quer aventuras e que, para eles, a estabilidade tem um alto valor social e político. Não perderei, pois, muito tempo a demonstrar a perfeita inutilidade das bravatas do mencionado dirigente da UNITA.

De qualquer modo, as declarações do general Numa impõem uma leitura política, pelo menos em dois planos. É o que tentarei fazer a seguir, para encerrar este texto. Em primeiro lugar, as referidas declarações desgastam ainda mais a imagem da UNITA, o que, como é óbvio – perdoai-me o cinismo político, mas isso faz parte do jogo -, não me nquieta particularmente. Em segundo lugar – e isso já me preocupa mais, como cidadão -, tais declarações impedem que a sociedade se concentre no debate e na busca de soluções para os problemas realmente importantes e actuais, como o reforço da democracia, a luta contra a corrupção, o crescimento e o desenvolvimento, a redução das desigualdades sociais e o combate à pobreza. Nada disso é possível num clima de instabilidade e agitação, como o que o general Numa ameaçou despoletar.

Em última análise, as suas ameaças fortalecem as posições daqueles que estão pouco interessados em resolver, na prática, os problemas atrás identificados. É por isso que discordo daqueles que insistem que uma UNITA fraca é má para a democracia angolana. Quem disse que a UNITA tem que ter o monopólio da oposição? Insisto num ponto que já referi em outras ocasiões: a UNITA é politicamente responsável pelo atraso do nosso processo democrático, com todas as suas consequências, incluindo o florescimento da corrupção. Isso ficou claro, para quem quisesse ver, em 1992, quando a organização, em vez de exercer o seu papel de oposição forte e representativa (teve quase 40 por cento dos votos), escolheu retomar a guerra, que acabou por perder dez anos depois (juntamente com a sua representatividade). Numa situação de guerra como aquela que o nosso país viveu entre 1992 e 2002, é impossível, entre outros, ampliar a democracia ou combater a corrupção, mas o contrário é, inevitavelmente, mais comum.

A democracia reclama uma oposição forte, sim. Mas a oposição angolana precisa de uma nova cara, moderna, responsável e competente. O tempo da UNITA (e de todas as forças prisioneiras do ressentimento e do desejo, explícito ou implícito, de vingança histórica) já passou.

Caso Violação à Constituição: Resposta à João Melo – Maurilio Luiele

A pauta dos jornais do derradeiro fim de semana trouxe como destaque as declarações proferidas pelo General Abílio Kamalata Numa que é por sinal Secretário Geral da UNITA. As declarações, consideradas inflamadas pelos observadores referiam-se a uma reivindicação da UNITA em relação a uma Comissão Nacional Eleitoral Independente tal como estipula o art. 107º da Constituição de 2010, prometendo o General em suas declarações, trazer a população às ruas caso o MPLA persisitisse em violar a Lei e recordando na oportunidade os acontecimentos daquilo que já é designado por “primavera árabe”.

Foi sem dúvida esta última referência que terá chocado certas consciências cujas reacções os jornais trataram de dar eco. Na verdade a reacção de Numa, tida por exacerbada por alguns, advinha do facto de que, na opinião da UNITA, com a proposta de Lei Eleitoral introduzida pelo MPLA para discussão no parlamento procurava-se justamente violar o preceituado pela Constituição e, com a maioria que o MPLA detém na Assembleia Nacional facilmente faria passar uma tal lei mesmo que anti-constitucional. De resto, quem foi capaz de passar como um tractor sobre as cláusulas pétreas para aprovar a constituição atípica mais facilmente puderá costurar a lei eleitoral que lhe convier mesmo que isso vá contra a Constituição. E gato escaldado…

Dentre os observadores que mais se opuseram às declarações do General Numa destaca-se o escritor, jornalista e deputado João Melo que fez questão de assinalar que deixou de abordar o caso da exoneração do Governador de Luanda com o qual pretendia discutir a questão da corrupção porque não podia ficar indiferente às declarações do General.

Ao ler a parte introdutória do artigo de João Melo alimentei a esperança de ver discutida a questão concreta levantada pela UNITA, contida no já supra-citado art. 107º da Constituição de Angola, mas, em vez disso, o que se me apresentou foram os lugares comuns de depreciação da UNITA que fazem parte da escatologia propagandística do MPLA anunciando como irremediável o fim da UNITA caso ela não mudasse. Não sei porque razão os profetas que anunciam o fim da UNITA, que o fizeram em 1976, fizeram-no em 92, fizeram-no em 2002 e em 2008 ainda não se convenceram do fiabilismo de seus vaticínios, mas isso é outra conversa.
Na minha opinião, salvo raras excepções (como seja o artigo do Dr. Justino Pinto de Andrade publicado na Edição 429 do Semanário Angolense), o que os pronunciamentos em relação às declarações do General conseguiram, ou pelo menos pretenderam, foi tão somente desviar o foco da discussão sobre um assunto concreto, pertinente e legítimo levantado pela UNITA e não só (veio a público uma declaração dos partidos de oposição extra-parlamentar que alinhava no mesmo diapasão da reivindicação da UNITA). Ou alguém pode questionar a legitimidade de uma força concorrente em exigir eleições transparentes? As declarações do General Numa não foram a única via de que a UNITA se serviu para trazer a público a sua reivindicação. O Grupo Parlamentar da UNITA fez um pronunciamento onde argumentava da forma mais clara possível as suas preocupações e, antes disso já o presidente da UNITA Isaías Samakuva expôs de forma os termos concretos dos anseios, receios e aspirações da UNITA em relação ao pacote legislativo eleitoral. A possibilidade do MPLA aprovar uma Lei Eleitoral que satisfaça seus interesses ignorando quaisquer outras perspectivas é real e, por isso, faz todo sentido que a UNITA se sirva dos mecanismos legais de pressão de que dispõe. Era, portanto, importante rebater estes argumentos e era o que eu esperava de João Melo.

Do mesmo modo o líder parlamentar do MPLA Virgílio Fontes Pereira caiu em evasivas preferindo dirigir acusações superficiais à UNITA em vez de contrapôr com argumentos sustentáveis as posições assumidas pela UNITA. Se eu estiver equivocado, e posso estar, quero que me digam qual o entendimento do MPLA sobre essa matéria. É o atrelamento da CNE à CIPE? A UNITA trouxe a público a sua interpretação de independência da CNE e não ouvimos do MPLA nada que sustentasse a sua posição. Entendo, portanto, que se perdeu uma oportunidade soberana de se trazer alguma luz sobre um assunto de maior importância, e os jornais, de modo geral, não foram capazes de jogar o seu papel mediador devolvendo o foco da discussão sobre um assunto que me parece bem concreto, mas ainda assim, fundamental para os próximos desenvolvimentos do processo democrático angolano.

A questão, a meu ver, pode ter uma raíz muito mais profunda e prende-se com o entendimento (conceito se quisermos) que as forças políticas em confronto têm de lei em função de seus traços ideológicos. Nos sistemas democráticos, assim entendo, a lei deve ser vista não apenas no ângulo nomos grego, isto é, preceito ditado que cumpre obedecer, mas também no ângulo lex romano que significa “ligação duradoura” contrato ou aliança. Nesta perspectiva, como diz Hannah Arendt, “uma lei é algo que liga os homens entre si e se realiza não através de um acto de força ou de um ditado, mas sim através de um arranjo ou de um acordo mútuo”. O fazer a lei assim implica adoptar uma “maneira de pensar ampliada” kantiana, que permite uma compreensão que “num estado de coisas político não significa outra coisa que ganhar e ter presente a maior visão geral das possíveis posições e pontos de vista”(Hannah Arendt). Isto quer dizer que não se pode augurar fazer uma lei afunilando e estreitando pontos de vista, mas antes, procurando colocar-se de modo a ter uma visão mais ampla possível dos diferentes pontos de vista e, no debate de ideias aproximar posições. Por outro lado, a visão marcadamente marxista que em grande medida conforma o MPLA, limita a abordagem política à perspectiva dialéctica entre dominador e dominados. Num contexto assim configurado a lei é vista apenas como instrumento para o exercício do poder sendo que este emana essencialmente da força que o dominador detém. Assim, o recurso ao voto não é visto como legitimador do poder mas, essencialmente como o caucionar do uso da força para o exercício do poder.

Uma perspectiva diferente é aquela que reconhece na pluralidade dos homens a razão da política sendo que aqui o poder reside efectivamente no povo que por meio do voto elege seus representantes e a relação política que se estabelece é entre representantes e representados. Num sistema assim idealizado não é o uso da força que confere o poder, mas é o voto que confere poder aos representantes para o uso da força. Aqui a lei só pode significar esta aliança, este contrato que liga representantes e representados e deve ser construída neste exercício de busca paciente, racional, enfim kantianamente compreensivo.
Assim colocadas as coisas quem tem efectivamente que mudar?

A questão é aqui colocada justamente porque o deputado João Melo teria afirmado, no artigo a que faço alusão, que ou a UNITA muda a sua maneira de ser e agir ou então se arriscaria a perder o estatuto de maior partido da oposição e passar à história como insignificante. No fundo o que o deputado pretendia dizer é que a UNITA não tem que reclamar nada, deve assistir calada a todas as tramas e nada mais. UNITA boa é UNITA dócil que aceita de bom grado tudo o que o MPLA oferece e foi ao extremo ao concluir que a UNITA era no fundo a responsável pelo atraso do processo democrático e até pela corrupção endêmica que caracteriza o país. Não poderia haver conclusão mais absurda! Só faltava essa, responsabilizar a UNITA pela corrupção!!

Curiosamente, o ex-Primeiro Ministro Marcolino Moco em seu site www.marcolinomoco.com traz-nos uma reflexão sobre aquilo que considera “o problema fundamental de Angola” com a qual aliás procura explicar a recente exoneração do José Maria Ferraz dos Santos, e afirma taxativamente “o nosso problema fundamental, atingindo uma dimensão de anormalidade, é a anacrónica sacralização do poder, especialmente o poder do Presidente da República”. Para ele Angola é hoje um dos raros exemplos no mundo em que “o poder presidencial tanto se aproxima de uma teocracia humana”.

As consequências deste endeusamento são evidentes. Em nome deste deus quantas arbitrariedades não são cometidas? O exemplo mais recente é a detenção do activista cívico e político David Mendes em Kitexe, no Uíge, sob a alegação de que distribuindo panfletos estaria a ofender o bom nome de Sua Excelência (ou será Sua Santidade?). Na verdade o endeusamento, ou sacralização, para parafrasear Marcolino Moco, representa um distanciamento entre dirigente e dirigidos pois não pode haver uma relação entre iguais entre um deus criador e criaturas. Deus é omnipotente, pode tudo, até oferecer grandes conglomerados empresariais aos anjos escolhidos mesmo que à custa, é claro, do erário público. Deus é a lei e as criaturas mortais só têm que temer e obedecer. Não pode, portanto, se estabelecer uma relação entre iguais, entre deuses-homens e criaturas-homens. Esta relação desigual não pode configurar de maneira nenhuma uma democracia e as designações mais próximas que o léxico político consagrou para esse tipo de relação entre governates e governados, são autoritarismo, totalitarismo, tirania, etc. Por isso, convenhamos, sacralização do poder é obstrução à democracia, simples assim!

A UNITA, por mais que isso atormente algumas consciências, não é de forma alguma um bando de homens embrutecidos em busca de poder a qualquer preço. A UNITA é um projecto que perdura há 46 anos que percorreu vales e montanhas, conheceu avanços e recuos, ganhos e perdas, erros e acertos, mas foi imparável. Este projecto atrai parte significativa da sensibilidade angolana porque a sua essência, expressa na clareza dos seus símbolos, sua marca registada (o galo negro e o raiar do sol) é DESPERTAR os oprimidos, os menos equipados, os socialmente desprovidos para a liberdade, a cidadania e justiça social “na terra de seu nascimento” que são aliás direitos elementares. A UNITA não é portanto, obra do acaso, esteve presente sempre presente nos momentos cruciais da história recente de Angola, na luta pela independência, na oposição ao GULAG “á l’angolaise” e na emergência da democracia multipartidária. No contexto político actual, quer se queira ou não, quer se goste ou não, nenhum avanço democrático se fará se a divisa for o apagamento da UNITA do cenário político angolano. De resto, democraccia só é efectiva se a aceitação das diferenças e a tolerância constituirem seu fundo de tela. Democracia e exclusão são absolutamente incompatíveis!

A UNITA precisará, por certo, fazer permanentemente ajustes em sua pragmática política de modo a se situar adequadamente em cada circunstância política que se configurar, o que é, aliás, imperativo à sua sobrevivência política, mas, se concordarmos com Marcolino Moco, que “o problema fundamental de Angola é a sacralização do poder do Presidente”, então ”dessacralizar este sistema é o caminho” como conclui este polítco na já referida reflexão. Isto pressupõe que a mudança fundamental que permitirá um salto qualitativo na democracia angolana, deve vir não da UNITA, mas sim, daqueles que sacralizam o sistema, isto é o MPLA. Portanto, é o MPLA que deve experimentar uma transformação profunda para assim remover um dos grandes obstáculos à democratização efectiva de Angola.

Em todo o caso acho que o fundamental agora é assegurar um processo eleitoral cristalino, transparente e isento. A nossa curta história eleitoral está marcada por episódios traumáticos que não interessa repetir. Faz, portanto, todo sentido a reivindicação por um processo eleitoral que paute acima de tudo pela verdade e que seja por todos considerado incontestável. Não é nenhum pecado querer um processo eleitoral que seja uma verdadeira celebração à democracia e não um pomo de discórdia.

Maurílio Luiele
Rio de Janeiro, 16 de Agosto 2011

Referências:
ARENDT, Hannah; O que é política; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011
MOCO, Marcolino; O problema fundamental de Angola; disponível emwww.marcolinomoco.com ; acessado em 16/08/2011